Biblioteca


BIBLIOTECA CENTRAL DE MARINHA

Anichada entre as pedras seculares do Mosteiro dos Jerónimos, em edifício inaugurado em 1981, a Biblioteca Central de Marinha (BCM) é a sucessora da Biblioteca da Academia dos Guardas-Marinhas e da Biblioteca da Escola Naval.

Recuemos no tempo: em decreto assinado no dia 1 de Abril de 1802, pelo Príncipe Regente (o então Príncipe D. João, futuro rei D. João VI),  este considerava que “(…) deve concorrer muito para o aumento, e perfeição da Minha Real Marinha o Estabelecimento de hum Deposito dos Escritos Maritimos dos Authores Portuguezes (…) [Assim] Hei por bem Crear huma Bibliotheca para uso dos Guardas-marinhas da Minha Armada Real, (...) na qual se recolhão todos os Escriptos Maritimos, que existirem dos Authores Portuguezes, tanto manuscriptos como impressos; (…) devendo para mais fácil execução do que Tenho determinado fazer-se público, que todas as Pessoas, que possuírem alguns dos referidos Escriptos, e os quiserem doar, ou vender á Bibliotheca, os apresentem ao seu Inspector, de quem receberão o certificado da sua Doação, ou o preço da venda, que estipularem(...)”.

Pouco tempo depois, cruzando o Atlântico em 1807, evitando assim os invasores franceses, a Corte e as suas instituições, estabelecem-se no Rio de Janeiro. A Biblioteca, é certo, seguiu, mas os livros ficaram no cais... Foi apenas em 1809 que a Charrua “S. João Magnânimo” cruzou o Atlântico carregando livros, manuscritos, instrumentos, náuticos, modelos navais e mobília. A Biblioteca, com mais de mil volumes no seu primeiro inventário, contabilizava cerca de 700 “títulos” nas vésperas da partida.

Retornando a Corte a Lisboa, é com D. Maria II que chega o segundo fôlego da Biblioteca, através do decreto de 7 de Janeiro de 1835, onde esta afirmava ser sua “(…) Intenção diffundir entre os [seus] (…) leaes Subditos de todas as classes as luzes da Instrucção, e os conhecimentos das Sciencias e Litteratura (…)”. Continuava o decreto da seguinte forma: “(…) Tendo ora particular attenção á Classe da Marinha do Estado, que muito desejo melhorar, preparando aos seus alumnos os meios de conseguir tão importante fim, pela applicação aos estudos próprios ou subsidiarios da sua nobre profissão: Hei por bem mandar crear, no Arsenal Real da Marinha, uma Bibliotheca, cujo primeiro fundo será formado dos Livros, Estampas, Instrumentos, e Modelos que se lhe poderem applicar do Deposito das Corporações extinctas, e cuja ulterior conservação, augmento, uso, e direcção será regulada pelas Instrucções que para esse fim Tenho mandado formalisar, depois de obterem a Minha Real Approvação (...)”

Muitas décadas mais tarde, depois de muitas reestruturações institucionais, em 1960 recebeu a designação de Biblioteca Central da Marinha, ficando a reger-se por um regulamento próprio.

Os fundos da Biblioteca Central de Marinha têm várias origens, mas no caso dos fundos antigos, é de salientar a importância dos recebidos das livrarias dos conventos das Ordens religiosas extintas em Portugal no ano de 1834. Conta com preciosas colecções de livros de Astronomia, Geometria, Aritmética, Geografia, Cartografia, História e outros assuntos.

Importantes legados têm enriquecido o património da Biblioteca, destacando-se, entre outros, os dos Almirantes Gago Coutinho e Teixeira da Mota, os dos Comandantes Marques Esparteiro e Nunes Ribeiro e ainda o da “Família Almeida d’Eça”, que muito vieram enriquecer o vasto património já existente em matéria de história náutica e de descobrimentos. Igualmente de sublinhar a existência de uma importante colecção de cartas geográficas, de cartas marítimas e de atlas, cujos mais antigos datam do século XVI e são exemplares únicos em bibliotecas nacionais.

Por tudo isto, a Biblioteca Central de Marinha é um importante centro bibliográfico e documental para o estudo de temas de História dos Descobrimentos e Expansão, Ultramar, Marinha e Assuntos do Mar.